3 de julho de 2014

Daniel Matador: Não tragam nunca mais zagueiros de Minas Gerais

Caros

O período da Copa do Mundo foi frutífero para o tricolor. Talvez o Grêmio tenha sido o clube brasileiro que mais aproveitou a janela do meio do ano e trouxe reforços de qualidade. Giuliano e Matías Rodriguez vieram com tarimba para ocupar a titularidade. Algo que, por razões óbvias, somente o aproveitamento de ambos poderá ratificar. E mais coisa boa pode estar pintando por aí.

Uma das vantagens deste período foi a existência de tempo para a recuperação dos zagueiros Rhodolfo e Geromel. Enderson inclusive indica que esta será a dupla titular a partir de agora, em substituição ao titulares anteriores, Bressan e Werley. No elenco ainda há Saimon, Thyere e Gabriel. Nestes últimos dias Werley fez declarações à imprensa alegando que a perda da titularidade não ocorreu por motivos técnicos. Provavelmente só ele acredita nisto, dado seu histórico no clube até então.

O Grêmio teve em sua história beques emblemáticos. Coube a zagueiros a honra de erguer as taças dos principais títulos internacionais do clube. O uruguaio De León e o paranaense Adilson estão imortalizados na história por conta disso. Além deles, outros patrões da zaga também deixaram seu nome gravado na memória da torcida. Desde Ancheta, o uruguaio considerado o melhor zagueiro da Copa do Mundo do México em 1970, passando por Baidek, o colono de Barão de Cotegipe que conquistou o mundo, até o paraguaio Rivarola, que com sua cara de Frankenstein libertou a América. Quem veste o manto tricolor para ocupar a zaga central ou a quarta zaga tem de estar ciente da missão de defender um legado.

Não consigo imaginar qualquer um destes ícones do passado reclamando na imprensa por perder a titularidade. Primeiro porque não fariam isso caso esta situação ocorresse, visto que esta é uma atitude de chorão. Para ser zagueiro é necessário ser homem e um homem de verdade trabalharia dobrado para recuperar sua posição. Em segundo, porque nenhum destes antigos zagueiros tricolores deixaria alguém ocupar seu lugar assim, sem mais nem menos. No jogo em Tóquio, De León disse uma frase emblemática para o então treinador Espinosa: “Fica tranquilo. Lá na área ninguém mais vai cabecear”. E ninguém mais cabeceou. E o Grêmio foi Campeão do Mundo. Alguém imagina Werley falando algo assim? Ou, se falasse, cumprindo o prometido?

O povo de Minas Gerais é conhecido por ser pacato e falar baixinho. Alguém já viu um zagueiro pacato e falando baixinho ter sucesso? Alguém consegue visualizar, por exemplo, um Rivarola com este temperamento cordial? Não tenho nada contra o povo de Minas Gerais, muito pelo contrário. Apenas faço um apelo ao Grêmio: não tragam nunca mais zagueiros de Minas Gerais! Até hoje, talvez apenas William seja a exceção que confirma a regra de que zagueiros mineiros não têm sucesso no Grêmio. Teco era seu companheiro de zaga e quebrou-se a ponto de jogar a carreira no ostracismo. Gilberto Silva não abria a boca e saiu daqui sem deixar saudade. Para fardar como zagueiro no Grêmio uma atitude diferente é necessária. Os mansos não se criam à frente da área tricolor.

Portanto, talvez Werley possa fazer um favor à nação tricolor e a si próprio: peça pra sair. Busque outros ares. Algum clube onde a tradição da zaga seja com menos compromisso. Onde a torcida aceite de bom grado zagueiros que não têm sangue nas veias e tenham cara de chorão. Um local onde deixam fardar na zaga até quem tem cara de que foi criado pela avó e tomava mingauzinho de aveia. Aqui no Grêmio o zagueiro tem de ter fuça de colono, rilhar os dentes na frente do atacante adversário, botar medo nos firulentos só com uma encarada e não deixar ninguém entrar na área, mesmo que peça licença.

Talvez em Minas Gerais a coisa seja mais tranquila, naquele jeitinho mineiro de ser. Aqui não.

Saudações Imortais